20 abril 2011

Uma casa muito engraçada

Renè Magritte. La Victoire. 1938

Engraçada não é bem a palavra.
Antigamente eu gostava de dizer que era como um caracol, carregando a casa nas costas. Não uso mais essa metáfora. Não é uma casa que vai comigo. São casas que eu construo e vou deixando por onde passo.
Tem uma casa em Sitges, perto de Barcelona, que tem meus móveis: um sofá que herdei dos meus pais e uma estante de loja, de ferro e vidro, por que me apaixonei, ainda que fosse inteiramente inútil aos propósitos de guardar qualquer coisa.
Tem pedaços da minha casa em casas de amigos em São Paulo.
Tem uma casa em Córdoba, na Argentina, que guarda minha casa dentro de caixas, malas e móveis. Está lá minha casa, ali dentro, esperando que eu volte.
Tem uma casa na praia, em Salvador, que tem quadros meus nas paredes. Quadros que ficaram bem naquela casa.
Eu tenho um quarto na casa da minha mãe. Um pequeno quarto pra onde eu sempre volto.
E tenho uma casa onde não moro. Com uma cama que eu mesma escolhi, grande, bonita, cômoda, onde não durmo. Uma cozinha que reformei unindo-a à sala por uma mesa em que não como.
Eu já tenho uma casa no Caribe, uma casa que não sei se vê a água transparente do mar ou se apenas escuta o seu murmúrio. Outra casa que me espera. Pra me habitar.
Uma vez a trabalho, a caminho entre Belo Horizonte e Diamantina, sentei no meio-fio do posto de gasolina, na beira da estrada. Olhei para um lado e para o outro da pista. Ali, no meio do nada, eu sorri, me sentindo em casa.

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