09 julho 2012

Lápis de carpinteiro

Nunca consegui levar adiante um diário. Talvez por isso esse meu blog seja tudo menos constante. Escrever pra mim não é fácil. E se aqui, em meio aos cachorros, é onde sou mais solta e menos exigente, em outros lugares escrevo com lápis de carpinteiro.
Sempre escrevi, já disse por aqui em algum post que a literatura me salvou do escárnio. Mas até hoje escrever me dá muito trabalho. É como se alguém me pedisse pra fazer uma cadeira, objeto simples, diário, necessário. Mas eu não sou carpinteiro. Me encho de inseguranças e receios de construir um objeto em que ninguém vai querer sentar ou, se sentar, vai ficar com medo. O objeto que consigo é mais que rústico, é frágil, pra usar com cuidado, dar manutenção, fazer ajustes, consertos. Não dá pra produzir em série, não é economicamente viável. 
Escrever não se aprende. E se aprender fica fácil, enche garrafas e vende. Não quero. Escrever pra mim ainda é, e depois de tanto tempo, visitar um planeta sem oxigênio e aprender a respirar nele, construir uma cadeira sem ser carpinteiro, e sempre a mesma cadeira e sempre o mesmo embaraço. Meu blog também se ressente um pouco deste desconcerto, deste despreparo, mas se aqui venho pouco é muitas vezes porque a vida lá fora está interessante demais ou de menos, ou porque estou atendendo, com medo, esforço e gozo, alguma encomenda que eu mesma me faço, um amor, uma cadeira, uma prisão, um caminho, um barco.


04 julho 2012

Leones en el balcón



Sí, era una imagen que apareció entre sueños. Poderosa. Una imagen suelta, como una fotografía suelta en medio a otras en un cajón lleno de fotos antiguas. Sin antes ni después. Dos leones grandes en un pequeño balcón de alguno de los edificios viejos del ensanche barcelonés. Todo sepia: los leones, la fachada del edificio, la barandilla cobreada. Una imagen envejecida. Me despierta. No me pregunto qué significa, sino qué hacen allí. A quién se le ocurre poner a dos leones africanos adultos en un balcón? Me digo que es una imagen imposible, que ni siquiera caben en el espacio reducido, uno esta adentro, es decir, afuera, el otro está tratando todavía de salir, tiene mitad del cuerpo salido, la otra mitad no la pude ver. Buen título, para qué? Leones en el balcón. Entiendo al fin. Sólo la literatura pudo ponerlos allí. Es fácil, a ver: hay dos leones en un balcón. Nadie lo duda. Tú me lees. Ahí están. Bellos. Del color de las arenas del desierto, al sol, tras las rejas de un pequeño balcón tal vez sobre Balmes, entre València y Aragó, dos leones enormes y africanos en un balcón barcelonés.