01 setembro 2013


há uma linha em minha barriga
onde os sóis se depositam
na retina o mundo todo imprime milhares de fotografias
sei que envelhecer é curvar-se
sobre esta paisagem
o cenho por exemplo contrai-se
e cava um vale
na outrora lisa superfície da testa
quilômetros de despedidas
ruínas em eterna visita
trilha de derivas
encontros
cada corpo que me tocou
e o hálito que respirei enquanto dormia
me habita
fez-se noite tantas vezes
fez-se sonho
rumor
de latitudes ensombrecidas
amontoado de escombros
névoa nas faces
disfarce
que não se dissipa com o dia
envelhecer é povoar-se
a dor de outros me comprime e me expande
pesa-me os ombros cada felicidade
sei que envelhecer é olhar-se
ver areia movendo-se no rosto
o tempo nos ensina tarde
a amar este outro
as curvas do riso
nos olhos de árvore
veja
que não falei em lágrimas
porque envelhecer é chorar com o corpo todo