05 dezembro 2012

DES DIS DOS



No andaban solos
eran siempre más que dos
menos en la única noche-día
en que el sol como un cañón de luz los descubrió
sin mediar palabra de ilusión
ni promesa de porvenir
probaron del puro sabor
a rocío besado con delicadeza
tocaron el tierno estupor
de la dicha muda de un albor

Después anduvieron solos
y tejieron palabras de encontrar
y urdieron encuentros y acasos
acaso se pudiera simular
la gratuidad de un beso a deshora
el abrazo encerrado
como el silencio hermoso de una flor

Hoy son dos y andan des
ilusiones por todos la
dos demasiado dis
símiles a des
tiempo de des
encuentro
la dicha
en esta
desilusión



02 novembro 2012


Cuando te llene por última vez la copa de vino
No me cuentes tus otras vidas
Deja tu sonrisa sin manos
Tus manos deja cerca de las mías

Cuando te suelte el pelo
No desfiles tus defectos ni muestres las canas escondidas
Recuerda que el fuego, de todos nuestros enemigos
Es el que menos discrimina

Cuando te baje la blusa
Deja la luz encendida
Dibujar oscuridades en tus curvas

No endurezcas en vano la carne tibia
Deja que se hunda con la presión de mis dedos
Que tu expresión un poco dura no venga de ahora, sino de lejos
Y que se borre de a poco como un sueño amanecido

Cuando te levante un poco los senos y los contemple
No me recuerdes que dieron leche y fueron vida
No pienses, no digas, mujer, siéntelos en mis manos todavía

Cuando finalmente te acueste
No estés fuera mirándonos, mirándote
No busques la toma perfecta, no te inmuevas, no te alejes
Quédate conmigo, mírame a mí
Porque cuando ya me haya ido querrás tal vez
- y tal vez no podrás -
Recordar, retenerme


09 julho 2012

Lápis de carpinteiro

Nunca consegui levar adiante um diário. Talvez por isso esse meu blog seja tudo menos constante. Escrever pra mim não é fácil. E se aqui, em meio aos cachorros, é onde sou mais solta e menos exigente, em outros lugares escrevo com lápis de carpinteiro.
Sempre escrevi, já disse por aqui em algum post que a literatura me salvou do escárnio. Mas até hoje escrever me dá muito trabalho. É como se alguém me pedisse pra fazer uma cadeira, objeto simples, diário, necessário. Mas eu não sou carpinteiro. Me encho de inseguranças e receios de construir um objeto em que ninguém vai querer sentar ou, se sentar, vai ficar com medo. O objeto que consigo é mais que rústico, é frágil, pra usar com cuidado, dar manutenção, fazer ajustes, consertos. Não dá pra produzir em série, não é economicamente viável. 
Escrever não se aprende. E se aprender fica fácil, enche garrafas e vende. Não quero. Escrever pra mim ainda é, e depois de tanto tempo, visitar um planeta sem oxigênio e aprender a respirar nele, construir uma cadeira sem ser carpinteiro, e sempre a mesma cadeira e sempre o mesmo embaraço. Meu blog também se ressente um pouco deste desconcerto, deste despreparo, mas se aqui venho pouco é muitas vezes porque a vida lá fora está interessante demais ou de menos, ou porque estou atendendo, com medo, esforço e gozo, alguma encomenda que eu mesma me faço, um amor, uma cadeira, uma prisão, um caminho, um barco.


04 julho 2012

Leones en el balcón



Sí, era una imagen que apareció entre sueños. Poderosa. Una imagen suelta, como una fotografía suelta en medio a otras en un cajón lleno de fotos antiguas. Sin antes ni después. Dos leones grandes en un pequeño balcón de alguno de los edificios viejos del ensanche barcelonés. Todo sepia: los leones, la fachada del edificio, la barandilla cobreada. Una imagen envejecida. Me despierta. No me pregunto qué significa, sino qué hacen allí. A quién se le ocurre poner a dos leones africanos adultos en un balcón? Me digo que es una imagen imposible, que ni siquiera caben en el espacio reducido, uno esta adentro, es decir, afuera, el otro está tratando todavía de salir, tiene mitad del cuerpo salido, la otra mitad no la pude ver. Buen título, para qué? Leones en el balcón. Entiendo al fin. Sólo la literatura pudo ponerlos allí. Es fácil, a ver: hay dos leones en un balcón. Nadie lo duda. Tú me lees. Ahí están. Bellos. Del color de las arenas del desierto, al sol, tras las rejas de un pequeño balcón tal vez sobre Balmes, entre València y Aragó, dos leones enormes y africanos en un balcón barcelonés.


24 junho 2012

Não me acostumo

Não me acostumo
Com barulho de buzina, e olha que eu gosto de cidade.
Com elogio e adulação, e olha que eu sou leonina.
Com lua cheia, e olha que sou bicho do mato, além de citadina.
Com lata de leite condensado, e olha que a infância já ficou lá do outro lado.
Não me acostumo
Com delírio de grandeza, e olha que engoli um rei ainda pequenina.
Com bicho espatifado na beira da pista, e olha lá em cima o urubu vigiando a carniça.
Com mendigo espatifado na calçada, mas pelo menos olho, ainda que não faça mais nada.
Não me acostumo
Com minha imagem hoje no espelho, mas olha, olha, por favor, olha ainda.

01 abril 2012

Perros que gritan como chicas

Perros hay por todos lados, no importa la ciudad en que uno elija vivir. También hay chicas. No sé de ninguna ciudad que no tenga perros ni chicas. Ni consigo imaginarla. Seria como sacarle a una ciudad toda dulzura e ingenuidad - lo digo por los perros -, todo encanto y delicadeza. Son vulnerables, son presas fáciles, los perros y las chicas. Aunque tengan colmillos y palabras afiladas, aunque disimulen y ladren, saquen uñas y dientes, así sonrían o amenacen a regañadientes. En la noche oscura de la ciudad son presas y son frágiles. En la ciudad violenta las chicas se arman con perros. Junte um bico com dez unhas quatro patas trinta dentes. El barrio universitario lleno de chicas solas que vienen de los pueblos, se llena igualmente de perros. Y por las noches, ya muy entrada la noche, ya muy oscura, tras los párpados cerrados, se los escucha a veces a los perros, a veces a las chicas. Y en el torpor del ensueño no sabemos quien grita.

11 fevereiro 2012

Sou eu que vou

sou eu que vou
e no meu lugar deixo uma saudade de mim
como um buraco no vento
vejo
o espaço que não vou ocupar
as palavras que não farei ouvir
minha falta
meu silêncio
sou eu que vou
e no meu lugar imagino um suspiro
que cai ruidoso na mesa de domingo
dói hoje em mim o amanhã
em que ontem era comigo

04 fevereiro 2012

Uma mão lava a outra

O que não quer dizer apenas troca de favores ou companheirismo. Significa, antes de mais nada, que uma mão sozinha não consegue se lavar bem. Descobri isso de maneira um tanto dolorosa: fratura dupla no dedo médio da mão direita.  Resultado: dedo imobilizado, mão direita praticamente inutilizada, o braço esquerdo já fatigado do uso exagerado dos últimos dez dias, o pescoço endurecido e as costas descompensadas. Além da dor e do desconforto, a adaptação é difícil, tudo fica a meio fazer e o que é feito leva pelo menos o triplo do tempo. As unhas vão ficando compridas e quebradiças, as sobrancelhas simplesmente crescem. Não posso escrever à mão e digitar cansa o braço inteiro. Vou terminar essa recuperação com uma tendinite em ambos antebraços. 
A mão esquerda aprendeu a se lavar sozinha, a amarrar cadarço, a pentear cabelo, a escovar os dentes, a segurar o garfo, a estar alerta a qualquer tropeço ou escorregão, porque é ela que fica livre pra aparar uma possível queda. Aprendeu a sacudir o saleiro, a descascar fruta, e se tivesse aprendido a falar já tinha xingado a outra de tudo que é nome feio. Além de fazer todo o trabalho, ainda tem que se cuidar pra não se cortar nem se queimar, pra não se machucar nem se cansar demais, porque no dia seguinte ela volta ao trabalho. Coitada, exausta, ela sente saudade, se sente enganada. Não nasceu pra isso. Nasceu pra ficar na sombra, no apoio, no anonimato. Porque quando ela se lava sozinha, fica meio suja. Porque o cadarço fica torto e o cabelo lambido, a comida salgada e a fruta com pedacinhos da casca. Minha mão esquerda tá contando os dias, as horas, eu também. 
A mão direita, lá do outro lado, não sabe tirar férias. Fica estressada tentando ajudar, fazendo de conta que não aconteceu nada. Se vira e se contorce pra segurar uma faca, uma pasta de dente, e quando ela menos espera, uma dor, uma pontada vem lembrar ela de sua condição de acidentada. Workaholic, ela se aquieta um pouco, mas logo se recupera e começa tudo de novo. 
Dez, nove, oito...contando os dias e as horas pra ver de novo uma mão lavando a outra.

23 janeiro 2012

Casa de praia



Um grauçá andando em círculos excêntricos enquanto carrega um tufo de areia três vezes mais pesado que seu próprio corpo etéreo deve ter uma explicação científica. Bem antes de começar seu desenho bêbado ele apareceu a menos de trinta centímetros do meu rosto enquanto eu tomava sol deitada na areia da praia. Não é comum ver um grauçá tão de perto. Fiquei bem quieta pra aproveitar meu momento national geographic, não sem antes analisar cuidadosamente seus sete ou oito centímetros de pata a pata e suas pequenas puãs para o caso de ele resolver beliscar o meu nariz ou a minha orelha. Ele também ficou bem quieto. Conferi pela visão periférica que ninguém viesse perturbar aquele escrutínio mútuo e vendo que a praia continuava deserta, me detive a percorrer a anatomia curiosa do bicho: dos olhos negros abertos em canivete aos pelinhos quase invisíveis das patas, depois de volta para os olhos rígidos em riste. Tudo tão perto que eu quase nem respirava pra não mexer as narinas e rezava pra nenhuma mosca pousar nas minhas pernas ou nádegas. Ele também me olhava completamente imóvel. Começamos a brincar de quem aguenta mais tempo sem piscar. Perdi. Constatação científica: se quiser brincar de quem aguenta mais tempo sem piscar, arrume outro bicho. Grauçá não pisca. Foi aí que ele começou a andar em círculos excêntricos se afastando aos poucos, o tufo de areia sempre debaixo de sua carapaça. A única explicação que me veio foi a de estar talvez deitada sobre a entrada de sua casa de praia. Mas a reflexão e a observação foram subitamente atravessadas por uma onda que subiu na parte mais alta da areia e me fez pular e levantar os chinelos e a toalha. Desapareceu o grauçá e eu não pude constatar nada. Nem pensar. Eu tinha ido à praia sozinha pra pensar na minha vida.


08 janeiro 2012

Quebra-cabeça

Engraçado pensar em alguém, saber que é errado, que não convém. Saber que mente, que é inexperiente e, ainda assim, querer bem. Não sei se é engraçado, talvez seja só diferente sentir dificuldade para encontrar adjetivos e qualidades. Repassar fatos e frases, duvidar. Desacreditar de elogios sinceros e recuperá-los somente depois e ouvi-los no silêncio sem ninguém. Descobrir em alguns pequenos gestos sem palavras um carinho verdadeiro, um afeto. Viver de fragmentos. Sei que é errado, sei que mente, mas é engraçado; não mais o fato, senão ele, a gente, e isso é já uma qualidade, ainda que não seja suficiente para querer bem, para pensar em alguém. Procuro, repasso, duvido, resgato. As peças desencaixam do tabuleiro permanentemente. Eu não me inquieto. Engraçado.