24 junho 2012

Não me acostumo

Não me acostumo
Com barulho de buzina, e olha que eu gosto de cidade.
Com elogio e adulação, e olha que eu sou leonina.
Com lua cheia, e olha que sou bicho do mato, além de citadina.
Com lata de leite condensado, e olha que a infância já ficou lá do outro lado.
Não me acostumo
Com delírio de grandeza, e olha que engoli um rei ainda pequenina.
Com bicho espatifado na beira da pista, e olha lá em cima o urubu vigiando a carniça.
Com mendigo espatifado na calçada, mas pelo menos olho, ainda que não faça mais nada.
Não me acostumo
Com minha imagem hoje no espelho, mas olha, olha, por favor, olha ainda.